
Esta é uma pergunta que muitos pais fazem: “Se o meu filho nunca vai precisar de calcular o Teorema de Pitágoras no dia a dia, porque é que tem de o aprender?” Ou ainda: “Para que servem os rios de Portugal se ele não quer ser geógrafo?” Estas dúvidas são compreensíveis, mas a educação vai muito além da aplicação direta dos conteúdos. Vamos explorar porque é que aprender certas matérias, mesmo que pareçam irrelevantes, é essencial para o desenvolvimento dos nossos filhos.
Aprender a pensar
A escola não serve apenas para transmitir factos, mas sim para ensinar a pensar. A matemática, por exemplo, não ensina apenas números, mas também lógica, resolução de problemas e pensamento crítico – competências fundamentais para qualquer área da vida. Um estudo da Universidade de Stanford (Boaler, 2016) demonstrou que estudantes que aprendem a resolver problemas matemáticos complexos desenvolvem uma maior capacidade de raciocínio lógico e criatividade, algo essencial em qualquer profissão.
Da mesma forma, a História ensina-nos a interpretar factos, a questionar versões e a entender a sociedade. Segundo o historiador Yuval Noah Harari, compreender a História é essencial para que possamos aprender com os erros do passado e tomar decisões mais informadas no presente e no futuro.
Desenvolvimento de competências transversais
Muitos conteúdos escolares desenvolvem capacidades que vão muito além da matéria em si. Quando um aluno analisa um poema, está a treinar interpretação e comunicação. Quando faz experiências em ciências, aprende a testar hipóteses e a lidar com o erro. Estas competências são essenciais para qualquer profissão. Um relatório da World Economic Forum (2020) apontou que as habilidades mais procuradas pelos empregadores incluem pensamento crítico, resolução de problemas e criatividade – todas elas desenvolvidas através do estudo de diversas disciplinas escolares.
Descobrir interesses e talentos
A escola expõe os alunos a uma grande diversidade de áreas do conhecimento. Como é que um jovem pode saber se gosta de biologia, literatura ou programação se nunca teve contacto com essas disciplinas? Muitos talentos e vocações são descobertos exatamente porque, em algum momento, um aluno teve de estudar algo que, à partida, não parecia útil. Um estudo da OECD (2019) revelou que os alunos expostos a uma maior diversidade de matérias na escola tendem a demonstrar uma maior flexibilidade cognitiva e adaptação a novos desafios profissionais.
Preparação para desafios futuros
O mercado de trabalho e a sociedade estão em constante evolução. Muitas das profissões de hoje não existiam há 20 anos, e o mesmo acontecerá no futuro. Mais do que decorar conteúdos, os alunos precisam de aprender a aprender, a adaptar-se e a resolver problemas. A escola treina essa capacidade ao apresentar desafios diversos e exigir que os alunos se superem. Segundo um relatório da McKinsey & Company (2021), profissionais que continuam a aprender ao longo da vida têm maior empregabilidade e sucesso profissional.
Cultura geral e pensamento crítico
Saber sobre história, literatura, ciências ou filosofia torna-nos cidadãos mais informados. Permite-nos perceber o mundo à nossa volta, interpretar notícias com um olhar crítico e participar de forma ativa na sociedade. Mesmo que um conteúdo específico não tenha aplicação direta na vida profissional, contribui para a formação de indivíduos mais completos e preparados. Segundo Daniel Willingham, psicólogo cognitivo da Universidade da Virgínia, a cultura geral é um dos fatores mais importantes para a tomada de decisões informadas e a participação cívica.
Leitura Recomendada
- Boaler, J. (2016). Mathematical Mindsets: Unleashing Students’ Potential through Creative Math, Inspiring Messages and Innovative Teaching.
- Harari, Y. N. (2014). Sapiens: A Brief History of Humankind.
- World Economic Forum (2020). The Future of Jobs Report.
- McKinsey & Company (2021). The Skill Shift: Automation and the Future of the Workforce.
- Willingham, D. (2009). Why Don’t Students Like School?
Nem tudo o que se aprende na escola será usado de forma literal na vida adulta, mas isso não significa que não seja importante. A educação não se limita à aquisição de conhecimentos práticos – ela molda a forma como pensamos, analisamos e enfrentamos o mundo. O verdadeiro valor do ensino não está apenas no que se aprende, mas em como isso nos prepara para o futuro, de formas que muitas vezes nem imaginamos. Investir numa educação ampla e diversificada é investir na capacidade dos nossos filhos de prosperar num mundo cada vez mais complexo e dinâmico.
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